sexta-feira, 17 de abril de 2009

O sentimento do irremediável me fez gelar de novo. E eu compreendi que não poderia suportar a idéia de nunca mais escutar esse riso. Ele era pra mim como uma fonte no deserto.
- Meu caro, eu quero ainda escutar o teu riso...
Mas ele me disse:
- Faz já um ano esta noite. Minha estrela estará exatamente sobre o lugar aonde cheguei no ano passado...
- Meu caro, essa história de serpente, de encontro marcado, de estrela, não passa de um pesadelo, não é mesmo?
Mas ele não respondeu à minha pergunta. E disse:
- O que é importante não se vê...
- Sim, eu sei...
- É como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é bom, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.
- É verdade...
- É como a água. Aquela que me deste para beber parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembras-te como era boa?
- Sim, lembro-me...
- À noite, tu olharás as estrelas. Aquela onde moro é muito pequena, para que eu possa te mostrar. É melhor assim. Minha estrela será para ti qualquer uma das estrelas. Assim, gostarás de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E, também, eu te darei um presente...
Ele riu outra vez.
- Ah! Meu caro, como eu gosto de ouvir esse riso!
- Pois ele é o meu presente... Será como a água...
- Que queres dizer?
-As pessoas vêem estrelas de maneira diferente. Para aquelas que viajam, as estrelas são guia. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas... Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve...
- Que queres dizer?
- Quando olhares o céu de noite, eu estarei habitando uma delas, e de lá estarei sorrindo; estão será, para ti, como se todas as estrelas sorrissem! Desta forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem sorrir!
E ele riu mais uma vez.
- E quando estiveres consolado (porque a gente sempre se consola), tu ficarás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E ás vezes abrirá tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem sorrir!” E eles te julgarão louco. Será como uma peça que te prego...
E riu de novo.
- Será como se eu houvesse dado, em vez de estrelas, montes de pequenos guizos que sabem rir...
E riu de novo. Depois, ficou sério:
- Esta noite...por favor...não venhas.
- Eu não te deixarei.
- Eu parecerei estar sofrendo, parecerei estar morrendo. É assim. Não venhas me ver. Não vale a pena...
- Eu não te abandonarei... Será lindo, sabes? Eu também olharei as estrelas...
Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente...
E nenhuma pessoa grande jamais entenderá que isso possa ter tanta importância!

Antoine Saint-Exupéry, em O pequeno Príncipe.

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