segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Lembranças.

Se deitou na cama, se escondendo embaixo dos lençóis surrados, tentando dormir, tentando fugir. Sorrateiramente, uma a uma, as lembranças saiam de suas caixas empoeiradas, postando-se em volta da cama. Ela sentiu alguma coisa; sentiu medo. Então, se enrolou ainda mais no edredon velho, desaparecendo num embrulho de pano. Como fazia quando era pequena. As lembranças se espalharam pelo quarto, cercando a pequena garota assustada. Estamos aqui, diziam elas. Você não pode nos esquecer. Você não pode me esquecer, disse aquele sorriso, que a deixara arrepiada por dias. Você não pode fingir que eu não existo, resmungou aquele abraço, aquele abraço apertado aonde, uma vez na vida, ela se sentira a salvo. Nem eu, disse um beijo. Nem eu, disseram os olhos. E as piadas, e os carinhos. Todas falando ao mesmo tempo, numa confusão dos diabos. Parem ! gritou a garota. Parem, vocês não deviam estar aqui, voltem para as suas caixas! disse a garota lutando contra as lágrimas. Por que vocês voltam a noite? O travesseiro não continha suas lágrimas, o lençol não abafava seu choro. Por que ela tinha que conviver com isso? Não bastava o passado, não bastava o que ela já havia sofrido, e ainda isso? Sem ela perceber, as vozes foram diminuindo. De repente, o silêncio se apoderou do quarto, descendo sob os ruidos como uma toalha de seda. Em câmera lenta, ela desafogou-se de suas lágrimas. Alí estava ela. Seu maior pesadelo, sua maior lembrança, sentada no tapete. Você não vai conseguir esquecer. E o garoto se inclinou para beijá-la, lentamente, provocativamente. Ela fechou os olhos, se entregando aquela lembrança doce, aqueles dias felizes. Então ele desapareceu, voltando para sua caixa empoeirada, deixando a pequena menina sozinha com seus pesadelos.



Uma noite de insônia, uma menina complicada e um caderno velho fazem textos e mais textos, apenas 1% deles quase publicáveis. ah, sim, minha baixo estima é fantástica.

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